Reflexões sobre a existência de uma outra pessoa dentro de mim

Uma das coisas mais difíceis a se entender na fé Cristã é a afirmação de Paulo de que Cristo vivia nEle, dentro dele! "Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim." Por mais poética que essa afirmação pareça, ela é real, literal, assombrosamente precisa e acessível aos sentidos. Essa afirmação passa pelo campo da experiência! Paulo era Judeu, e um Judeu extremamente zeloso, cumpridor das leis. Paulo cresceu aos pés rabinicos, imergido nas profundezas da Lei judaica, e como bom judeu, adequava suas condutas aos ditames da lei. Tudo que a lei não condenava era parte da vida diária de um bom judeu, e tudo que a lei condenava fazia parte dos estudos diários de cada um deles! Haviam judeus mais tolerantes, outros menos... Gente mais rígida, outros mais flexíveis, e a preocupação de todos eles era adequar o viver diário para que a letra da lei não fosse quebrada. Na verdade, o objetivo último dessa busca incansável pela reflexão sobre a lei, visava criar possibilidades para a pratica de atos que, adaptados contrariavam o Espírito da lei, mas, não feriam a lei em sua literalidade. Um exemplo disso é o caso da Lei que expressamente exigia que o Judeu honrasse seus pais em sua velhice, sustentando-os, auxiliando-os, amparando-os em suas fragilidades produzidas pela idade. A lei mandava cuidar, alimentar, ou seja, gastar os próprios recursos financeiros para a sobrevivência dos pais que já não podiam mais trabalhar. Os judeus, depois de muita reflexão sobre a lei entenderam que se alguém declarasse seus bens como Corbã, o que quer dizer, dedicados ao Senhor para o sustento da casa de Deus, o declarante estava livre de ajudar os pais. Assim, estudar a lei na totalidade das vezes tinha o intuito de encontrar uma forma de não feri-la! O coração do homem buscava incansavelmente encontrar uma forma de "driblar" a condenação da lei. Se no sábado a permissão de caminhar era até 1.000 metros e um homem desejasse visitar alguém cuja casa estivesse a 1.500 metros de distancia, poderíam se encontrar se cada um caminhasse apenas 750 metros e se encontrassem na metade do caminho. Driblaram a lei para realizar o desejo de se encontrar. Paulo era assim, profundo estudioso dessas brechas legais! De repente Paulo se converte e começa a sentir coisas novas, ânimos novos, desejos novos. Algo dentro dele matou o interesse em estudar a lei! Enquanto na lei e sem Cristo, o desejo de Paulo era conhecer e estudar a lei para criar desvios legais que lhe permitisse viver seus próprios planos... Com Jesus Paulo passa a ter dentro de sí uma fagulha de luz que acendia um desejo de conhecer o plano de Deus para a vida dEle. Um plano único, exclusivo, individual... Depois da conversão, Paulo perde de forma sobrenatural o interesse em descobrir formas de adequar as suas práticas e suas condutas pra que os seus desejos, os seus pensamentos pudessem ser estabelecidos sem chocar-se contra a lei... A religião, a manipulação perde o sentido... O coração e a mente de Paulo agora passam a doer quando ele pensava em errar... Esse sentimento choca Paulo! Paulo então constata que o interior dele, de alguma maneira, havia recebido uma nova pessoa, uma mente diferente e um coração novo! Paulo percebe uma luta em seu interior, uma batalha que não se prende mais no cumprimento da lei, mas que lutava contra seus próprios desejos, uma luta interior contra a sua própria vontade... A lei não é mais a referência de Paulo para uma vida Santa... As motivações erradas, os desejos de manipulação agora são desmascarados por uma nova consciência... Uma consciência que até então inexistia! Paulo então se choca com sua maldade, com sua vida regrada mas, doente, limpa por fora nos atos visíveis, mas, podre por dentro quando enxergava as motivações do próprio coração! Paulo compreende a necessidade do perdão porque a lei falhava! Paulo encontra esperança exclusiva no perdão da Cruz! E mesmo sendo perdoado, tendo inequívoca ciência de que a Cruz limpava seu pecado, no seu interior alguém Santo havia nascido... Alguém com profundo desejo de santidade agora morava dentro dele! Não podia ser ele, o próprio Paulo... Tinha que ser Jesus... Tinha que ser Jesus... Afinal, até então isso não existia dentro dele...   
Referência ao Corbã: Marcos 7:5-13

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